quarta-feira, setembro 22

o fundo



Será mesmo que eu tenho um fundo (sem segundas interpretações)? Hoje, mais que nos outros dias, eu estou me sentindo tão vazia. Muita carne, muitos ossos, me sinto feita com arame farpado, ou com uma cerca elétrica, dessas que dão choque ao menor toque. O que ta no fundo, quando ta, não tem descrição, não é palpável. É um amontoado de coisas miseráveis, bizarras e extraordinárias, como as coisas que encontramos em um circo: acrobacia, bicho maltratado, tristeza de palhaço, mágica para sobreviver, fantasias para existir, um caos de mascaras e risos, esperando um único aplauso.
E se eu cair do trapézio? Alguém diria que eu preciso de cuidados. Mas e se eu ficar lá, balançando de um lado para o outro? Ninguém vai saber da minha tortura, dos meus medos, da minha eterna roleta-russa, nada. E eu vou estar com uma roupa, cheia de lantejoulas, com um reboco na cara. Perfeito. Nem remédio, nem cuidados, só aplausos.
E se eu tenho medo do trapézio? (por mais que eu me alimente do frio na espinha, quando passo de uma barra para outra) é isso então?
No fundo, bem no fundo, eu sempre soube que a vida é essa coisa assim, estranha, meio capenga.
Eu serei condenada ao paredão dos infelizes, se não disser que é um grande espetáculo?
Não importa se o leão está velho e nem ruge mais. Se as piadas do palhaço soam muito mais tristes que seu sorriso desenhado. Se a pipoca está velha, murcha e fria.

Sob a grande lona, só vale a alegria!
ALEGRIA!

Vamos comprar nossos ingressos e dar uma bela gargalhada!!
Dentro do meu picadeiro tem um canto escuro, onde eu posso me vestir de Krika, e esperar que o atirador de facas não erre.
No fundo, no fundo, só tem uma coisa: tudo não passa, de um espetáculo decadente, chamado - Vida.