quinta-feira, junho 18

Você não precisa ler isso

Me sentei ao pé da cama, e pus-me a observar o quarto. O armário, os livros que tanto me acolheram, "como aqueles velhos amigos que a gente pode passar mil anos sem falar,e eles vão continuar lá pra nos ajudar, sabe?" o chão e as paredes. As paredes que suportaram o peso de mil lágrimas, e as escondeu entre seus desenhos pra fazer-me mais feliz...

Revivi momentos de cada parte da minha vida, e recordei com paixão de cada uma das músicas que em algum momento significaram alguma coisa. Folheei mais uma vez a edição velha de Fernão Capelo Gaivota, e me surpreendi mais uma vez com os problemas em alçar grandes voos de todos (inclusive de mim mesma, principalmente pra falar a verdade). Sorri pra foto com meu pai que estava sempre num cantinho bem obvio, como se dissesse obrigada, por tanto me entender e ter me aguentado até agora (as vezes não com tanta paciencia).

Revivi aquelas velhas recordações, sempre ali de plantão pra não me deixar esquecer jamais da delícia de ser criança, e do quanto eu não quero mudar. E entre os tantos bilhetes, desenhos, badulaques, estava o caderno. Aquele caderno que li tantas vezes, procurando arrancar mais algum detalhe escondido, como se disso dependesse a resolução de meus problemas. Reli tudo, como se fosse a última vez. E foi a ultima vez. Descobri que não havia nada a desvendar, que o papel amarela com o tempo, a tinta desbota, e as lágrimas secam. Todas elas.

E sobre as palavras. (de mim à mim mesma)

Palavras. De que me servem agora, as palavras? Elas não preenchem meu vazio. Elas não vão me botar no colo e dizem: calma calma vai ficar tudo bem, tristeza é coisa passageira seja feliz muito feliz. Não vão. Não me servem de nada as palavras, do mesmo modo que não me serve de nada saber lidar com elas. Não adianta manipular as palavras, elas não vão construir uma realidade ideal pra mim. Elas só vão expôr meus medos. É isso que elas fazem. Expôem seus medos para quem se dispôr a decifrá-las. E os outros, os outros não entendem. Nem o meu vazio (nem o teu), nem o meu medo (nem o teu), nem as minhas palavras (nem as tuas).

As palavras não são suficientes para acalmar meu coração tão atribulado. Elas só registram a minha dor sem curá-la. Um retrato cruel e fiel da realidade. E, como um retrato, só têm uma função: captar, sem no entanto compreender.

Elas se alimentam da minha tristeza, precisam da minha agonia pra nascer. Já percebeu que todos os escritores são infelizes? Nós precisamos dessa tristeza. É dela que as palavras vivem. Quanto mais tristeza, mais bonitas elas surgem. E você não quer ser infeliz!

Aprenda que só você é capaz de preencher esse vazio. As palavras são suas amigas mais traiçoeiras. Quando você mais precisar, elas vão faltar. Não vão querer sair. Vão ficar presas, e formar um nó na sua garganta. Um nó que sufoca, e mata.

Um comentário:

Pabli disse...

Caracas!!!!

Showwwww!!!! muito Showww!!!

Bjo guria inteligente!!!!
auhauahuahau