sábado, agosto 28

Mutiladores

Nós não cabemos nesses caixotes! Nesses mesmos, que nos forçamos a entrar. Somos fatiadores, educados desde sempre para mutilar, auto-mutilar e sermos mutilados. Assim funciona a máquina, nos dizendo o que devemos cortar (em nós mesmos e nos outros). E somos bons nisso!! Cortamos aquilo que os outros não podem ver, não podem ouvir... Aquilo que não podemos dizer. Nos cortamos!

Pedaços que não cabem, não produzem, e que não levam pra lugar nenhum. Somos convencidos pelo medo da "existencia ameaçada", de que precisamos nos valorizar mais, para assim como um terreno, podermos nos vender. E para sermos valorizados precisamos estar nos conformes, então, com uma precisão incrivel, vamos lá e "ploft" cortamos o que não tá no contexto.
Se cortar virou mais que um dever, uma necessidade, que embora horrenda, é cultuada como arte!! E no contexto da flexibilidade, vem o fio da lâmina, "vc é radical demais", "vc precisa ser mais normal", "desse jeito vc não vai a lugar nenhum", "vc precisa ser mais..." "vc não pode ser assim"
Pois é... precisamos antes de qualquer outra coisa "ser mais", mas não ser mais qualquer outra coisa.

Dá pra entender?

Só que a gente fracassa! E esse foi o maior fracasso da humanidade: mutilar-se!
Simm, nós nos retalhamos, e assim também produzimos sempre o mesmo tipo de reação: Homens encaixotados, cortados e furiosos! Mulheres, encaixotadas, cortadas e revoltadas!!

E temos em nós cada gota de revolta, contra essa grande faca que NÓS mesmos passamos na gente! Nós fazemos, reproduzimos... e logicamente, cabe a nós dar um fim.
É uma faca cega, surda e muda. Nos diz que nossos pensamentos não valem nada. Que não estamos do "jeito certo". Essa faca surda, sem alteridade... retalhou nosso tempo, nossas relações, nosso mundo.
MEUU mundo, meu corpo!!

E ela só existe porque afiamos ela todos os dias, nas palavras, no pensar, ou no não pensar, ou pensar desse jeito, condicionado, ensinado a ser mutilador.

NÓS A REPRODUZIMOS NOS OUTROS!!!


Eu me revolto, mas não adianta nada...
Um brinde então! À resistencia de cada um de nós, daqueles que fogem, que se entristecem, que lutam e que morrem... ou àqueles que suportam, e vivem como loucos. À resistencia do corpo que grita contra a indiferença de si mesmo. Que grita destruindo tudo por dentro do "eu" que se desconhece.

Nenhum comentário: